sábado, 19 de abril de 2008

A Última Ceia

Pausa do trabalho...


Típico das minhas viagens à negócios, o tempo que sobra para turismo é à noite. Já conhecí muitas cidades, e grande parte das européias caminhando de madrugada, já que ainda é relativamente seguro. E em Milão ontem à noite não foi diferente. Apesar de já conhecer a cidade de outras vindas, dessa vez foi especial. Voltava à pé para o hotel, depois de um rápido jantar que terminou por volta das 21h30, quando fui surpreendido por uma forte chuva e me ví perdido. As ruas estavam vazías e de longe ví algumas pessoas num "recinto iluminado" ao lado de uma igreja. Entrei para pedir orientação. Assim que pisei no átrio, a mocinha por detrás do vidro me perguntou: "veio para ver a Última Ceia? Eis o ingresso". Me surpreendí, claro, quando me dei conta de que estava no famoso convento renascentista de Santa Maria delle Grazie, construído em 1400 e onde Leonardo da Vinci pintou a Última Ceia, ou Cenaculo, terminado em 1495. E fiquei ainda mais surpreso por saber que havía conseguido o que nem havía tentado, isto é, uma entrada para ver a obra, já que normalmente tem-se que reservar com no mínimo duas semanas de antecedência. E ainda mais durante o Salone del Mobile? 450.000 visitantes em Milão?? Nem em sonho...

Pois estar alí é, sem dúvida, uma emoção para qualquer amante da arte e da história, independente do credo ou religião. Alí, sentado admirando a obra de da Vinci, além das considerações religiosas que deixo para cada um que lê o que escrevo aqui, estava eu tendo a oportunidade de estar diante de um ícone da arte da nossa civilização. Poder ver a Última Ceia no seu lugar de origem dá a exata noção do significado do trabalho de Leonardo da Vinci, talvez o maior gênio da nossa espécie, um expoente da raça humana. Olhar para sua pintura e, do outro lado do mesmo átrio, para uma outra importante pintura remanescente e contemporânea de da Vinci (alguém sabe o nome?? pois é...) dá ao observador a oportunidade de perceber claramente o significado que representou da Vinci e o que ele criou, a ruptura com o que existía até então, com o tradicional, com o incumbente. Leonardo aplica no seu afresco técnicas de iluminação e perspectivas, planos de fundo, técnicas de luz e cor, dinâmica dos elementos, animação dos caracteres não utilizadas dantes por ninguém mais...

Daí, vendo alguns trabalhos de vanguarda durante o Salone del Mobile dou-me conta da grandeza do significado da busca incessante de determinados artistas - classe que eu tanto, mas tanto aprecío - por uma quebra de ruptura signficativa com o que existe até então e de quão pequenos somos afinal todos diante de alguém que deixou um legado que transcedeu 500 anos e que marca a todos de uma civilização.

É uma grande emoção!

PS.: nao se pode tirar fotos na antiga sala do refeitório onde está a pintura. Isso porque a luz do flash causa dos danos aos pigmentos. Essa foto eu tirei sem flash, e espero não ter causado nenhum outro dano, afinal esse é um patrimônio de todos nós, tanto para ser admirado, compartilhado quanto para ser protegido.


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